Hotelaria e emprego

A carência de trabalhadores faz-se notar em diferentes departamentos da hotelaria. Baixos salários e falta de perspetivas profissionais parecem agravar o problema.

Pormenor de mão de homem a abrir porta de quarto de hotel

A Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) estima que faltam 15.000 trabalhadores no setor. Receção, mesa e cozinha, administrativos, manutenção, RH e spa são os departamentos onde mais se faz notar esta lacuna. Numa fase pós pandemia, os salários baixos e a falta de perspetivas de evolução na carreira são fatores agravantes.

A escassez de recursos humanos na hotelaria foi um dos principais temas do 32º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo promovido pela AHP, que decorreu em Albufeira, Algarve, na segunda semana de novembro.

Entre as principais conclusões do congresso, foi revelado que são necessários mais 15.000 trabalhadores nos hotéis portugueses. Cristina Siza Vieira, vice-presidente da associação, baseou-se uma amostra de 400 hotéis (de um universo total de 800 da instituição) com uma carência de 7200 funcionários. Número que facilmente duplicará, considerando a totalidade de hotéis portugueses, estima Raul Martins, presidente da AHP. “O capital humano é, para o nosso sector, o desafio da década”, sublinhou o dirigente. Por outro lado, “o nível de escolaridade dos portugueses melhorou, há mais pessoas que emigraram e não temos gente suficiente para as necessidades do turismo”. 

Soluções apontadas para a escassez de trabalhadores na Hotelaria:

  • Contratação de mão-de-obra estrangeira. Raul Martins avançou com o objetivo de contratar imigrantes de países da CPLP ou mesmo filipinos.
  • Autenticidade. A contratação de imigrantes deve ser equilibrada com a desejada manutenção da autenticidade do país. Uma chamada de atenção de Jorge Rebelo de Almeida, presidente do grupo hoteleiro Vila Galé. “Temos de receber bem os emigrantes porque vamos precisar deles”, sublinhou.
  • Salário emocional. Criar condições motivadoras adaptadas ao perfil de cada trabalhador. “Para um funcionário de 20 anos será mais aliciante ter a mensalidade da Netflix ou de um ginásio. Para ‘housekeeping” o seguro de saúde poderá ser mais importante”, sugeriu Luís Mexia Alves, CEO da DHM – Discovery Hotel Management.T
  • Reclassificação de funções. A DHM eliminou as funções de rececionista e empregado de mesa e criou um novo cargo com um salário mais alto.
  • Incentivo a jovens trabalhadores. Marta Sotto-Mayor, formadora e consultora em Hotelaria, sublinhou que as escolas de turismo geram estagiários com muita ambição e cujas potencialidades não são devidamente aproveitadas pelos hoteleiros.
  • Aumento salarial. Os salários tradicionalmente baixos praticados no setor “já estão a aumentar”, assinalou Raul Martins. Mas uma subida generalizada de salários levaria inevitavelmente a um aumento de preços nos hotéis. “E 40% do nosso mercado é interno. Suportaria que vendêssemos quartos muito mais caros?” questionou o responsável.
  • Retenção de talentos. O investimento na retenção e capacitação de pessoas deve ser “canalizado para quem efetivamente queremos reter, e cada vez mais há que dar valor à remuneração variável”, apontou Rita Almada, gestora no grupo Sonae de ‘people analytics’, ferramenta de apoio à gestão na tomada de decisões sobre recursos humanos.
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