Marcas querem calçado desportivo made in Portugal

Rapariga com calçado desportivo cor de rosa sobre um tronco rodeado de vegetação.

Marcas de calçado desportivo apostam em Portugal

O calçado desportivo made in Portugal volta a ter a preferência de grandes marcas internacionais, revela a APICCAPS – Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos.

Dificuldades logísticas de diversa ordem, agravadas pela subida dos custos de transporte e acompanhadas pela tendência para cadeias de abastecimento mais curtas, estão a revolucionar diversas indústrias, nomeadamente a do calçado desportivo. Assim, as empresas portuguesas especializadas neste tipo de produção têm tido uma “procura brutal”, como testemunha Luís Onofre, presidente da APICCAPS.

O boletim trimestral editado por esta associação, em parceria com o Centro de Estudos da Universidade Católica do Porto, aponta para uma exportação de 21 milhões de pares de sapatos – correspondente a um valor de 493 milhões de euros – no primeiro trimestre de 2022. O que representa mais 25,2% do que em igual período do ano anterior.

Os empresários estão agora focados “no abastecimento de fatores de produção, em especial no preço e disponibilidade de matérias-primas, e na escassez de mão-de-obra para responder à forte procura”.

Fatores de mudança

O jornal ECO revela que a procura surge sobretudo a partir de “grandes clientes americanos, franceses, italianos, alemães ou suecos no segmento do calçado desportivo”, fazendo-se “sentir sobretudo na zona de Felgueiras”, onde existe know-how e qualidade reconhecida.

O desvio da produção “da China e de outros países asiáticos” para Portugal deve-se “não só pelas circunstâncias da pandemia” de Covid-19, mas também pelo facto de que muitas marcas optam pelo fornecimento mais próximo (nearshoring). É uma forma de reduzir custos na cadeia de abastecimento aos mercados europeus, enfrentando o aumento do preço dos combustíveis e as dificuldades atualmente existentes na área de logística e de transportes.

“Há uma procura de Portugal pela qualidade, pela rapidez da entrega, pelas circunstâncias atuais. Porque, hoje em dia, os prazos para as entregas têm de ser mais curtos. Cada vez mais a moda é efémera. E Portugal consegue fazer tanto séries pequenas como grandes produções”, explica o responsável.

Bons exemplos da indústria de calçado desportivo em Portugal

O ECO contactou algumas empresas de calçado para perceber melhor esta nova realidade.

A Darita, empresa de Guimarães que trabalha sobretudo em regime de private label, exporta 90% dos artigos para países como os Países Baixos, a Alemanha, o Reino Unido ou a França. O nível de vendas já ultrapassa o da pré-pandemia, afirma Filipe Mora. Há “casos de clientes que faziam cá 10% e 90% no outro lado, e agora estão a passar para cá 50%” devido ao acréscimo de custos nesses mercados mais longínquos. Em 2021, a faturação aproximou-se dos 5 milhões de euros.

A empresa está agora a desenvolver a marca própria Friendly Fire.

Também a Joseli, sedeada em Felgueiras, fatura 15 milhões de euros e exporta 99% da produção. Ao longo dos últimos meses, testemunhou o regresso da procura de calçado português, vindo da China, Vietname ou Índia.

É “um dos motivos pelo qual a maior parte das empresas está lotada e tem a capacidade produtiva preenchida a 100%, adianta João Pinto, responsável do departamento comercial da empresa. A fábrica produz 80% a 90% para private label e aposta também nas marcas próprias Pretty Love (senhora) e Jooze (homem).

Por seu lado, a Celita conseguiu clientes novos que “estavam com alguns problemas em termos logísticos e com o custo dos transportes [da Ásia para a Europa] que disparou de forma incrível”. O presidente executivo, Paulo Martins declarou ao ECO que, para as marcas, “financeiramente até pode não ser tão vantajoso quanto isso, mas numa altura difícil correm menos riscos com uma produção mais próxima e muitas delas deslocaram-se” para Portugal.

A empresa de Guimarães fatura 18 milhões de euros por ano, optando por investimentos prudentes. “Este aumento da procura em Portugal pode eventualmente ser passageiro, para resolver alguns problemas de momento e, as coisas estabilizando, voltar ao normal”.

A Celita produz a marca própria Ambitious.

Outra empresa de Guimarães, a Calsuave, aposta na produção de marca própria, a Suave. “As marcas viraram-se para a Europa, mas isso é volátil, não é por aí que se deve ir. Encheram as fábricas de trabalho porque não têm hipótese de fazer noutro lado, mas quando tiverem hipótese, voltam para lá”, antecipa José Moura ao ECO.

Calçado desportivo em Portugal: desafios e oportunidades

O maior desafio que a produção enfrenta é a falta de mão de obra qualificada – são necessários 2500 a 3000 trabalhadores especializados, estima a APICCAPS.

Outra dificuldade prende-se com o fornecimento da matéria-prima. “Ao virem para Portugal e encherem o mercado de trabalho, isso afetou os fornecedores [das fábricas] que não conseguem entregar os produtos a tempo”, explica o gestor da Joseli.

Em alguns casos, os prazos de entrega triplicaram, mesmo que cerca de 80% dos materiais utilizados sejam comprados em Portugal. “Até podemos ter mais encomendas, mas só conseguimos produzi-las passados três ou quatro meses devido a estes problemas de escassez e aumentos dos preços das matérias-primas”. É o caso de solas, borrachas ou termoplásticos.

Existe ainda o receio de que a procura seja de curta duração e que, com o regresso à normalidade, os clientes internacionais voltem para os países asiáticos, com mão-de-obra mais barata.

Um relatório da Athletic Footwear Market, elaborado pela Allied Market Research estima que a indústria do calçado desportivo venha a valer 165 milhões de dólares a nível mundial – um aumento de 50% em relação a 2020.

A procura por sapatilhas de desporto irá crescer até 2030. Uma tendência que se deve à popularização da prática desportiva e à democratização do seu uso em ambientes formais.

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